Caminhava só pelas vinhas da ira
Solidão de um caminho escuro
Encontrei as uvas doces de morangueiro
Entrei numa velha adega
Adega esta onde estava um velho barril
Perdido e talvez esquecido, vazio
Queria tanto tentar fazer
Fazer o vinho dos mortos
Enterrá-lo na terra húmida da velha adega
Rezei, rezei enquanto trabalhava
Não queria mais andar
Era difícil ver na noite escura sem luar
Transformei-me no vinho que fiz
Deixei-me guiar pelo som das águas que corriam
No leito do rio passando debaixo da ponte
Que descia pelos montes e prados
Sobre as fragas, choupos
Matando a sede das aldeias
Inundando o chão
Fecundado as novas searas
As novas sementes
Tinha medo e quis enfrentar
Enfrentar o medo
Lavei a minha alma no leito do rio
Até todo medo evaporar-se
Só então, voltei para a vinha
Vinha da ira de todas as mágoas
De todas as sombra
Fiquei nua, sem pele, sem medo
Nadei à tona, no lagar onde fiz
Fiz o vinho dos mortos, vinho de sabor
Amargo, forte e de doce paladar.
Lindo demais poetisa!
ResponderEliminarGrata pela partilha!